'Não tem casa para você': venezuelanos relatam pressão para embarcar para MG; prefeitura da BA diz que viagem foi voluntária
Venezuelanos relatam pressão para embarcar para Montes Claros
Venezuelanos do povo indígena Warao relataram que foram pressionados a deixar a cidade de Itabuna, no sul da Bahia, e embarcar em um ônibus enviado pela prefeitura com destino a Montes Claros, no Norte de Minas. O grupo, com 41 pessoas, incluindo 27 crianças e quatro gestantes, chegou à cidade mineira na madrugada do último sábado (15) e foi deixado no terminal rodoviário sem que a prefeitura local fosse avisada previamente.
O líder do grupo, Cacique Amario Mota, disse que representantes da prefeitura de Itabuna informaram que não havia mais condições de manter o acolhimento.
“A prefeitura de lá falou: ‘Não tem trabalho para os venezuelanos. Não tem comida. Não tem casa para você’. Depois tirou os venezuelanos, colocou no ônibus e trouxe para cá”, relatou.
Segundo Amario, após a gestão municipal comunicar que não conseguiria mais oferecer moradia, alimentação ou apoio às famílias o grupo foi direcionado ao transporte que os trouxe para Minas Gerais.
“Ele falou: ‘Aonde vai você? Qual cidade vai?’. Eu falei: vamos para Montes Claros. Aí eu pedi transporte, um ônibus, e ele colocou [a gente] no ônibus e trouxe para Montes Claros. Só isso”, disse.
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Grupo de venezuelanos vindos da Bahia permanece em ginásio de Montes Claros
Documento menciona pedido voluntário
Apesar do relato do cacique, um documento da Secretaria de Promoção Social de Itabuna, datado de 12 de novembro, registrou que a saída do grupo foi feita por solicitação dos próprios líderes. O texto informou que sete responsáveis assinaram o pedido de desligamento e detalhou a composição do grupo: sete homens, sete mulheres e 27 crianças.
“As famílias Warao que estavam acolhidas na Unidade de Acolhimento para Pessoas em Situação de Rua de Itabuna solicitaram deslocamento para a cidade de Montes Claros/MG, configurando benefício eventual de passagem rodoviária para as sete famílias, um total de 41 pessoas. Conforme regimento interno da unidade, os mesmos solicitaram desligamento por demanda espontânea", apontou o documento.
Documento oficial assinado pelos venezuelanos aponta que viagem foi feita de forma voluntária
Reprodução
Decisão foi coletiva, segundo prefeitura
Em nota publicada no site institucional, a Prefeitura de Itabuna afirmou que a viagem foi decidida em reunião com os líderes das famílias. O município também informou que o grupo solicitou mantimentos e fraldas para a jornada.
A gestão destacou que o grupo praticava o nomadismo, tanto no país de origem quanto no Brasil, e que recebeu apoio com acolhimento, saúde, educação e regularização documental, em articulação com o Ministério Público Federal, Ministério Público da Bahia e Polícia Federal.
“Os caciques assinaram Termo de Declaração junto à equipe técnica do POP Acolhimento confirmando o desligamento voluntário e por demanda espontânea”, afirmou o comunicado.
Venezuelanos vieram da Bahia e foram deixados em Montes Claros
Infográfico
Prefeitura mineira diz que foi surpreendida
A Prefeitura de Montes Claros informou que não havia sido comunicada previamente sobre a chegada das famílias e que acionou equipes das secretarias municipais para atendimento emergencial.
Venezuelanos foram deixados na rodoviária de Montes Claros
Reprodução
O grupo permanece alojado, de forma provisória, no Ginásio Ana Lopes, onde recebe alimentação, atendimento de saúde e acompanhamento técnico. O município ainda avalia os próximos passos para resolver a situação de forma mais estruturada.
“Elas foram triadas para ver a condição socioassistencial. Receberam da equipe técnica do Creas todo acompanhamento e também da Estratégia da Família e do Consultório de Rua para atender todas as questões de saúde”, disse o secretário de Desenvolvimento Social, André Keviny, à Inter TV.
Venezuelanos abandonados em Montes Claros procuram emprego e seguem abrigados em ginásio
Grupo de venezuelanos é deixado na rodoviária de Montes Claros após chegar em ônibus vindo da Bahia
Venezuelanos querem ficar em Minas e trabalhar
Segundo o cacique, cinco homens do grupo estão aptos ao trabalho. Ele afirmou que o desejo das famílias é permanecer em Montes Claros.
“Podemos trabalhar em qualquer mercado, ajudando com sacola, como pedreiro, pintando casa ou em plantação. Podemos aprender qualquer trabalho”, disse.
Além das refeições fornecidas pela prefeitura, o grupo solicitou doações de itens como leite, suco, fraldas, arroz, farinha, macarrão e tapioca, principalmente para as crianças.
Famílias receberam doações de leite e alimentos
Gabriele Silva/Inter TV
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