Entenda o que é mobilização comunitária e como você pode se tornar um cidadão atuante
06/12/2025
(Foto: Reprodução) A arquiteta e professora universitária Viviane Zerlotini da Silva, durante uma assessoria técnica para lideranças comunitárias em BH.
Bruno Timóteo/Divulgação
Seu bairro precisa de uma linha de ônibus, de asfalto na rua, da instalação de um quebra-molas ou de serviços de abastecimento de água e energia elétrica?
A pedido da reportagem do g1, a arquiteta, professora universitária e assessora técnica de movimento popular Viviane Zerlotini da Silva elaborou um conteúdo com dicas para quem busca melhorias para o lugar onde mora.
"Minha jornada começou na adolescência, quando morava em um conjunto habitacional na periferia de Belo Horizonte. Ali tive meu primeiro contato com o que chamamos de 'ativismo de bairro'. Eram iniciativas para se organizar em comunidade, solicitar e realizar melhorias para o bairro. Não podíamos esperar pela iniciativa do poder público", contou Viviane.
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Segundo ela, abaixo-assinados, mutirões, festas e audiências são válidos quando partem da iniciativa da população local, a partir de articulações entre vizinhos que vivem o dia a dia do bairro.
"Quando o interesse é coletivo evitam-se iniciativas de grupos que agem de má-fé e mobilizam essas mesmas ferramentas para explorar o bairro ou até mesmo privatizá-lo. Não é raro moradores de bairro de classe média se organizarem para impedir a construção de conjuntos habitacionais que abrigariam uma população de classe social mais baixa, em uma evidente postura preconceituosa e até mesmo racista", disse.
Neste sábado (6), o Rolê nas Gerais conta histórias de moradores satisfeitos com os bairros onde vivem. São regiões com boa oferta de comércio e serviços, onde a maioria das pessoas não precisa ir ao centro da cidade para resolver assuntos pessoais ou até mesmo trabalhar.
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O Rolê nas Gerais conta histórias de moradores que estão satisfeitos com os locais onde vivem.
TV Globo/Reprodução
Se você quer melhorias para seu bairro, é possível se organizar com os vizinhos. Mas é preciso que sejam causas de interesse coletivo, que beneficiem a vida de toda comunidade. Confira dicas:
Fortaleça a interação entre os vizinhos
Promova rodas de conversas, mutirões e festas (juninas, de rua) nas calçadas e vias públicas. A ocupação cotidiana do espaço e os laços de amizade são a base da mobilização.
Crie e apoie centros comunitários ou culturais para fortalecer o sentido de pertencimento e a identidade dos moradores com o território.
Utilize a assembleia de moradores como ferramenta de poder:
Realize assembleias para o debate aberto das questões do bairro, onde seja possível revelar discordâncias, negociar e deliberar sobre as ações a serem realizadas.
Garanta que a iniciativa parta da população local e não de grupos externos ou com interesses particulares.
Negociação e participação política
Forme comissões para agendar reuniões com a gestores públicos (vereadores, deputados) e participar de audiências públicas. Os moradores atuantes fazem manifestações e integram mesas de negociações.
Utilize abaixo-assinados para formalizar demandas e demonstrar a força da mobilização.
Busque assessoria técnica externa
Em casos complexos ou de grande impacto urbano, solicite assessoria técnica de universidades ou outras instituições públicas para elaborar documentos e relatórios. Isso fortalece e evidencia argumentos nos processos de negociação com o poder público.
O filtro contra o interesse particular
O ativismo legítimo é público e coletivo: abaixo-assinados, mutirões e audiências só fazem sentido quando visam melhorias que beneficiem a vida de todos os vizinhos no espaço urbano, como transporte público ou segurança.
Rejeite o lobby e a segregação: grupos que usam essas mesmas ferramentas para defender interesses próprios, explorar ou privatizar o bairro (como impedir moradias populares ou fechar ruas). O ativismo deve promover o direito à cidade, não negá-lo.
Mantenha o protagonismo comunitário
Ao buscar o apoio de prefeitos e vereadores, faça valer a representatividade do político eleito pela comunidade, mas seja cuidadoso em não permitir que a reivindicação seja usada para campanha política.
Garanta que a comunidade enxergue a figura política, o vereador, por exemplo, como um facilitador de acesso, e não como condutor do processo. Ele está a serviço da população.
"Por fim, aproveite a mobilização dos vizinhos para compartilhar estratégias de ação e formar novas lideranças no seu bairro", concluiu Viviane.
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